Parece um causo, mas é um case

* Por Humberto Mendes

Tem coisas que só uma boa assessoria de imprensa é capaz de resolver. Vou contar aqui um dos muitos casos nos quais tive participação ativa. Eles foram tão marcantes em minha vida profissional que não dá para esquecer e sempre lembro deles quando estou face a face com um grupo de estudantes de comunicação.

Numa das agências em que trabalhei em São Paulo, um de nossos clientes, uma construtora, estava vivendo um problema que nunca tinha aparecido no seu dia-a-dia e não havia, internamente, quem conseguisse resolver. Foi aí que nos pediram socorro.

O problema

Um pequena divergência entre duas pessoas da direção acabou se transformando numa guerra sem quartel a ponto de, em pouco tempo, se formarem duas "panelas", que logo em seguida se multiplicaram em mais cinco ou seis.

Dizia o presidente da empresa, "primeiro, estou pedindo que vocês me ajudem a acabar com isso, por duas razões: não quero chamar uma empresa especializada em relacionamento interno, no tal endomarketing, porque quando o nosso pessoal perceber que tem alguém trabalhando nesse sentido as brigas vão recrudescer e vai acabar vazando para o mercado que estamos fragilizados e isso será um prato cheio para os nossos concorrentes fulano, sicrano e beltrano".

E segundo, "vocês de agências de propaganda são especialistas em resolver os mais intrincados problemas e este nosso, certamente, será um probleminha para quem tem tanta competência técnica. Eu só preciso que isso não seja visto por sua agência como um trabalho normal, mas que seja tratado muito confidencialmente. Quero que fique só entre você que nos atende, eu e o seu presidente e mais ninguém, nem aqui nem lá". Tentei demonstrar que aquilo não era função de agência de propaganda, mas o homem não quis conversa. Disse inclusive que estava sendo procurado por outras agências, mas que não nos deixaria de maneira alguma. Sua lealdade era tão grande que chegava ao requinte de nos pedir um trabalho tão delicado como aquele. "Só confiando muito, só confiando muito"... enfatizava.

Que merda, pensei. Vou levar uma solene de uma enrabada quando chegar na agência com esse abacaxi. Aliás, eles vão é aproveitar o próprio abacaxi para me estuprar.

Sentamos, meu presidente e eu, que já fui logo dizendo que era coisa seria, que a empresa estava a ponto de ter que chamar a policia a qualquer instante para resolver problemas e que o seu presidente não abria mão de uma solução inventada por gênios regiamente pagos para usar seus neurônios. Gênios esses que eramos nós, pobres mortais publicitários. Com mais dois "gênios" da agência, a quem fizemos jurar silêncio, gastamos quilos e quilos de neurônios na busca de uma solução para o cliente ou então de uma saída honrosa para a agência.

A solução

Chamamos uns amigos de assessoria de imprensa, gente com cabeça diferente da nossa, sem os nosso vícios, principalmente sem a nossa velha mania de resolver tudo com anúncio e olha que, normalmente resolvia, sim. Mas nesse caso não tinha jeito.Os caras foram embora, voltaram no dia seguinte e fizemos varias reuniões até que se chegou a uma alternativa que salvou a pátria e ambos os lados.

De repente tínhamos em mãos a idéia de um livreto editado em alemão, que contava a história de uma empresa européia que tinha serios e graves problemas de relacionamento interno. Tal empresa contratou um professor, Hans Martin Schneider, um dos maiores especialistas do velho mundo em questões de RH e este elaborou o livreto que mostrava uma empresa moderna, onde, do presidente ao faxineiro, excetuando as diferenças salariais, culturais e outros ais, todos têm a mesma importância como seres humanos. E por isso a empresa precisa contar com todos, pois do trabalho de cada um depende o seu sucesso. O folheto mostrava exemplos de uma indústria de alimentos em que a faxina mal feita queima a imagem de qualidade dos produtos, mostrava que cada vez que a secretária do lado de cá mente para a do lado de lá, dizendo que o Sr. Fulano não está, corre-se o risco de, numa confidência entre elas, a verdade aparecer, não se podendo esquecer da solidariedade feminina. Tinha o exemplo do office-boy que não entregou uma correspondência importantíssima pois resolveu deixar para entregar no dia seguinte e por isso a empresa perdeu um enorme faturamento e assim por diante.

Traduzimos para bom português o folheto e entregamos para o presidente do cliente. Este, por sua vez, o distribuiu em sua empresa para todos os escalões. Nos disse depois que, em noventa dias, mais de 70% de suas preocupações diminuíram. O trabalho fluía maravilhosamente.

Agora que sei que ambos os presidentes já morreram, posso contar: o professor HM Schneider e o livreto em alemão só existiram na cabeça dos caras da assessoria de imprensa, na do meu presidente, na minha e na de mais dois "comparsas" dessa deliciosa trama que deu certo

Casos como esse acontecem todo dia e quem conta com uma boa agência de propaganda e com uma igualmente boa assessoria de imprensa, não tem medo de enfrentar e resolver.


(*) Humberto Mendes, publicitário, é vice-presidente executivo da Fenapro - Federação Nacional das Agências de Propaganda

Um comentário:

  1. Presto Consultoria de Comunicação Integrada há alguns anos e que tenho hoje denominado de Gestão de Processos Comunicacionais.
    Sabem por que??Porque enfrento esse tipo de CAUSO em quase todos os meus clientes...os quais não posso e não devo mencionar aqui.
    Mas principalmente numa quase especialização em gestão em Empresas familiares,que por coincidência ou não..sempre apareço na hora da quase ruptura da família empresária.
    E garanto ,meus amigos que o "Livreto do Professor Scnheider",poderia quase se transformar numa bíblia-diário com alterações freqüentes e inimagináveis...
    Mas como de médico e louco todos temos um pouco, quase sempre chegamos a um final feliz..ou quase..até porque ... diz o dito popular ,que no final tudo acaba bem e se não acabou bem..é porque não chegamos ao final...

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